Videogames ajudam na recuperação de pacientes com problemas motores

Gameterapia ganha espaço na área da saúde com novas tecnologias

PUBLICIDADE

Por André Cáceres
Atualização:
Departamento de fisioterapia do hospital naval de Charlestone, nos Estados Unidos, usa o Nintendo Wii para tratar pacientes Foto: Wikimedia

Acabou o tempo em que videogame era símbolo de sedentarismo. Nos últimos dez anos, os jogos eletrônicos não apenas angariaram uma fatia maior e mais diversificada de público, como também tornaram-se aliados da saúde. "A gameterapia une o lúdico ao terápico", explica o professor Leandro Lazzareschi, que coordena a clínica de fisioterapia da Universidade Cruzeiro do Sul.

PUBLICIDADE

Ele conta que pacientes de cinco a 90 anos já foram atendidos pela gameterapia, que utiliza o sensor de movimento do Xbox One e jogos que explorem essas funcionalidades, como Just Dance, Zoo Tycoon, Zumba Fitness e Kinect Sports Rivals. "Além do estímulo visual, há a música", fala o especialista sobre jogos de dança.

Os games costumam fazer os pacientes esquecerem momentaneamente as limitações e se movimentarem motivados pelo fator de diversão e imersividade. "Ajudou muito, porque além da diversão, é mais um teste de concentração", relata Laís, 17 anos, que tem problemas motores e fez gameterapia para um estudo. "São jogos que eu já conhecia e gostava", comemora a menina.

As sessões duram entre 40 e 50 minutos e o processo, usado para tratar vítimas de AVC, paralisia cerebral e problemas de mobilidade, é aplicado em conjunto com outras terapias. De acordo com Lazzareschi, os pacientes não precisam ter intimidade com games, e mesmo pessoas que nunca jogaram antes aceitam bem o tratamento.

"Os idosos competem de verdade para ver quem dança melhor. A tendência é envelhecer com mais saúde e a gameterapia age no sentido de prevenção, para fortalecer os músculos, melhorar o equilíbrio e evitar quedas", comenta o especialista. "Já as crianças não querem parar".

Especialista demonstra Just Dance, um dos jogos usados na gameterapia Foto: André Cáceres/Estadão

Segundo o professor, já existem games desenvolvidos especificamente para a gameterapia. "Um jogo é controlado pelos batimentos cardíacos do paciente por meio de uma cinta polar, o outro depende da pressão da mão apertando um objeto para movimentar o personagem. Ou seja, são jogos que já foram criados com o caráter terapêutico", afirma.

No entanto, ele lamenta que esses softwares ainda não tenham alcançado o mercado de consoles e estejam restritos a plataformas específicas. "Nós ficamos limitados pela restrição do aparelho. Só podemos rodar os jogos que já estejam disponíveis para o Xbox", completa. Na outra ponta desse problema estão os desenvolvedores, que ainda encontram dificuldades para colocar suas criações nos consoles de massa.

Publicidade

É o caso do jogo brasileiro Libra, que ensina a linguagem de sinais e pode ser desfrutado tanto por pessoas com audição quanto por deficientes. "O game coloca o jogador dentro de um universo onde quase todos a sua volta se comunicam apenas por Libras, invertendo o papel vivido por diversos deficientes auditivos na vida real, então é preciso aprender a língua para cumprir os desafios, avançar na história e finalizar", conta Murilo Romera, um dos desenvolvedores.

O game brasileiro Libra ensina pessoas a se comunicar pela linguagem de sinais Foto: Reprodução

Ele afirma que a ideia inicial foi fugir do estigma de que games educativos são chatos. "Por isso, elaboramos um enredo completo, de uma forma que o jogador se interesse pela história do jogo", conclui. O título foi disponibilizado para Android e está em busca de investidores para ser aprimorado e viabilizado para um público maior.

Para a desenvolvedora Marina Camargo, cuja equipe criou uma série de games voltados para o público idoso, ainda falta investimento nessa área por parte de hospitais e clínicas. "O jogo como aliado de tratamentos ludificam a atividade deixando-a menos tediosa e até mesmo acelerando o processo do tratamento".

PUBLICIDADE

Ela afirma que os jogos com enfoque na saúde ainda são pouco explorados, tendo em vista as possibilidades que existem. "Nós decidimos focar em jogos para fins terapêuticos a partir da observação do reflexo do idoso, que muita vezes já não tem mais o tempo ideal de resposta e acaba por se machucar em situações do dia a dia como deixar cair uma faca", explica.

O professor Leandro Lazzareschi acredita na importância dos videogames para a área da saúde nos próximos anos e se diz otimista quanto ao avanço da tecnologia. "A gameterapia deve evoluir ainda mais no futuro, pois a tendência é os jogos se tornarem cada vez mais imersivos com os óculos de realidade virtual", prevê o especialista. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.