A dramática memória que continua viva em "Kuba" Blaszczykowski

Jogador internacional polaco tem uma história de vida incomum.

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Blaszczykowski a "falar" com a sua mãe YVES HERMAN/Reuters

Se a Polónia está nos oitavos-de-final do Euro 2016, deve-o, em grande medida a ele, autor do golo com que os polacos derrotaram a Ucrânia (1-0) no último jogo do Grupo C. Jakub Blaszczykowski é um exímio marcador de livres, mas chegou ao futebol depois de uma infância marcada por um drama familiar que levou muito tempo para ser ultrapassado.

Blaszczykowski nasceu em Czestochowa, no sul da Polónia, e tinha 11 anos quando a sua mãe Anna lhe morreu nos braços, apunhalada pelo seu pai num episódio de violência doméstica. Hoje, com 30, o médio olha para o céu cada vez que marca um golo. “É um gesto simbólico de agradecimento à minha mãe, que tinha tanta confiança em mim”, explicou este homem casado e pai de duas crianças.

A infância de Blaszczykowski nunca mais foi a mesma após a morte da sua mãe. Depois do homicídio, o pequeno "Kuba" – diminutivo de Jakub em polaco – e o seu irmão passaram a viver com uma avó. Teve também um importante apoio do seu tio materno, Jerzy Brzeczek, antigo médio e capitão da selecção polaca. Este medalhado com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, ajuda o pequeno rapaz a recuperar o equilíbrio emocional e a regressar ao futebol, que, entretanto, tinha colocado de parte.

"Foram precisos muitos anos até conseguir deixar de pensar com ódio no coração”, disse Kuba numa entrevista que acompanhou o lançamento da sua autobiografia, em 2015.

"Aconteça o que acontecer na tua vida e sejam quais forem os obstáculos que surjam, o importante é nunca baixar os braços mas continuar a caminhar (…), nunca termos pena de nós próprios, mas fazermos o nosso trabalho", testemunha o internacional polaco ainda hoje.

Blaszczykowski, cuja ortografia é um quebra-cabeças para a imprensa internacional, construiu um palmarés impressionante. Campeão da Polónia ao serviço do Wisla Cracóvia, bicampeão alemão com a camisola do Borussia Dortmund, em 2011 e 2012, vencedor da Taça da Alemanha em 2012 e finalista da Liga dos Campeões em 2013, eleito futebolista polaco do ano em 2008 e 2010...

O médio destacou-se em Dortmund, onde jogou na companhia de Piszczek e Lewandowski, naquele que foi um trio polaco de luxo e que fez as delícias dos adeptos do Borussia até ao momento em que Lewandowski rumou ao rival Bayern Munique.

Mas o destino também o traiu em algumas grandes competições internacionais de futebol. A poucos dias do início do Euro 2008, Blaszczykowski lesiona-se e vê-se obrigado a renunciar ao torneio. No início de 2014, rompe os ligamentos cruzados de um joelho e fica praticamente todo o ano sem poder jogar. Em 2015, o Borussia empresta-o aos italianos da Fiorentina, mas acaba por ficar quase sempre no banco de suplentes, vendo a sua convocatória para o Euro 2016 seriamente em perigo. No entanto, mereceu a confiança do seleccionador e a presença na competição é uma merecida recompensa para um jogador que nunca baixou os braços.

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